Preservação de árvores nativas é essencial para conter enchentes, destaca Copaíba

Preservação de árvores nativas é essencial para conter enchentes, destaca Copaíba

Publicado em: 19 de setembro de 2025

Preservação de árvores nativas é essencial para conter enchentes, destaca Copaíba

Associação Ambientalista alerta que a retirada da vegetação ciliar expõe as cidades a riscos maiores de inundações, enquanto a preservação de árvores nativas fortalece a segurança hídrica e a resiliência urbana diante das chuvas extremas

 

À medida que se aproxima a temporada de chuvas intensas, característica das estações mais quentes no sudeste do Brasil, cresce a urgência por soluções sustentáveis para enfrentar inundações urbanas. Nesse sentido, estudos recentes de organizações como o Live to Planet e a Universidade de Oklahoma recomendam a manutenção de matas ciliares, que agem como verdadeiras esponjas naturais nas margens dos rios, evitando inundações ao reduzir a velocidade do escoamento, promover a infiltração de água no solo e armazenar volumes significativos de chuva.

No Reino Unido, por exemplo, plantios de florestas ripárias nas bacias hidrográficas de Laver e Skell mostraram efeitos concretos na redução da velocidade média da água em até 50%, além de atrasar o pico de enchentes em até 55 minutos, diminuindo o impacto nas áreas urbanas próximas. Já no cerrado brasileiro, na bacia do rio Corumbá IV, a recuperação de áreas de preservação permanente (APPs) reduziu em 27% o carreamento de sedimentos para os cursos d’água, protegendo nascentes e reservatórios, além de diminuir o assoreamento, o que ajuda a evitar a elevação artificial do nível do rio.

De acordo com Camila Conti, arquiteta urbanista e presidente da Associação Ambientalista Copaíba, árvores em pé, especialmente em zonas ciliares, cumprem funções essenciais de estabilização do solo das margens, redução do assoreamento dos rios, aumento na infiltração da água no solo e atenuação da velocidade da enxurrada, funcionando como barreiras naturais contra alagamentos. “A retirada da vegetação, ao contrário, pode expor as margens à erosão e agravar os problemas de inundação”, explica.

Na avaliação da Copaíba, os eventos de chuva mais extremos já mostraram que as cidades da região não estão preparadas. Situações dramáticas foram presenciadas nos últimos anos, reforçando a necessidade de medidas consistentes. Entretanto, muitas das ações adotadas até agora para reverter o problema se mostraram ambíguas. Duas tendências chamam atenção: de um lado, a escolha por atribuir a culpa dos alagamentos à vegetação das margens, resultando em intervenções de “limpeza” das calhas que, na prática, removem a vegetação e deixam o solo exposto; de outro, a retificação diminui o espaço necessário para as enchentes naturais do rio, além de fazer com que a água desça o curso mais rápido, porque percorre um caminho menor.

Outro ponto destacado é que, em geral, privilegiam-se as áreas mais urbanizadas para essas intervenções, realizadas muitas vezes com meios técnicos limitados. O uso de maquinários para escavar margens e leitos deixa um rastro de solo solto que, posteriormente, é arrastado para os rios, aumentando o assoreamento, inclusive nas áreas à jusante, o que gera problemas a outros espaços no perímetro urbano e rural.

A Copaíba questiona dois aspectos centrais dentro deste cenário: primeiro, a legalidade de intervenções desse tipo, que envolvem áreas de preservação permanente e remoção de vegetação nativa sem que haja clareza sobre licenciamento ambiental. Segundo, a insuficiência dessas soluções estruturais, que não enfrentam as causas do problema e, em alguns casos, podem até agravá-lo. É por isso que a organização insiste na necessidade de medidas de caráter “não estrutural”, que conciliem planejamento urbano, conservação ambiental e participação social.

Os alagamentos devem ser enfrentados com uma visão integral da bacia hidrográfica. Um rio não é apenas seu leito, mas inclui também as cabeceiras e as encostas, que contribuem com o volume de água durante as chuvas. Nesse contexto, é essencial promover a conservação e restauração da vegetação nativa a montante, bem como criar espaços para os rios ocuparem durante as cheias, impedindo a construção e o aterramento dessas áreas e implementando parques fluviais para retenção das águas.

As discussões ganham relevância especial nas bacias dos rios do Peixe e Camanducaia, que atravessam a região e apresentam cursos com forte desnível. Essa característica aumenta a velocidade de escoamento das águas, favorecendo a erosão e ampliando a vulnerabilidade das margens. Nesses casos, a presença de vegetação nativa é ainda mais crucial, tanto nas matas ciliares quanto nas áreas de recarga do lençol freático, nascentes e zonas de amortecimento que precisam ser mantidas ou criadas nas cabeceiras das cidades. A retirada dessas formações não apenas acelera o processo erosivo, mas compromete a capacidade de infiltração e a resiliência hídrica regional.

Esses serviços ecológicos só produzem resultados duradouros quando associados a políticas de uso e ocupação do solo. Não basta preservar fragmentos isolados de mata se o entorno das bacias hidrográficas segue sob pressão de adensamento urbano desordenado. A supressão da cobertura vegetal fragiliza margens e compromete a infiltração da água, enquanto a expansão em áreas de cabeceira e fundos de vale intensifica o escoamento superficial e aumenta a carga de poluição difusa, arrastando resíduos, óleos e poeira para os cursos d’água.

“Nesse cenário, a preparação das cidades para a estação chuvosa não pode se limitar a obras de engenharia ou canalizações: o planejamento urbano precisa assumir papel central na gestão das águas”, pontua Ana Paula Balderi, Coordenadora da Restauração Ecológica da Associação Ambientalista Copaíba.

 

Medidas necessárias

Diante deste cenário, especialistas da Copaíba reforçam a importância de medidas chamadas de “não estruturais” de macrodrenagem, que não envolvem apenas grandes obras, mas a integração entre planejamento urbano e conservação ambiental. Entre elas estão:

  • Diminuir a velocidade do escoamento, mantendo os leitos naturais dos rios e evitando retificações que aceleram a corrente;
  • Preservar e recuperar áreas vegetadas para reduzir a erosão, melhorar a infiltração de água e sustentar a biodiversidade aquática;
  • Realizar ações integradas de conservação do solo e restauração de vegetação nativa, à montante e nas áreas rurais, evitando-se assim que a água chegue com velocidade aos cursos da água e diminua o extravasamento;
  • Proteger as áreas naturais de inundação, proibindo a ocupação e aterramento de espaços como brejos, várzeas e áreas de baixada.
  • Garantir áreas de inundação controlada, permitindo que os rios possam se espraiar em momentos de cheia, já que as enchentes são fenômenos naturais que precisam de espaço para ocorrer sem gerar tragédias.

“Proteger e restaurar a vegetação nativa não é apenas uma ação ambiental, mas uma medida de segurança pública. As árvores de pé seguram o solo, protegem as nascentes e reduzem os impactos das enxurradas. Retirá-las compromete a resiliência das cidades diante das chuvas cada vez mais intensas”, detalha Flávia Balderi, Secretária Executiva da Copaíba.

O alerta da Copaíba ganha ainda mais relevância em um contexto de mudanças climáticas, no qual os eventos extremos de chuva tornam-se mais frequentes e intensos. Para a organização, a adaptação das cidades passa necessariamente por uma combinação de soluções: além das obras de engenharia, investir na recuperação da vegetação ciliar, na conservação dos fundos de vale e em diretrizes de ocupação urbana que respeitem os limites naturais dos rios é fundamental para mitigar enchentes e construir uma resiliência urbana duradoura.

 

Mais sobre a Copaíba

Criada em 1999 por um grupo de amigos que se preocuparam com a degradação da Mata Atlântica no município de Socorro-SP, a Associação Ambientalista Copaíba é uma organização sem fins lucrativos, qualificada como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) e que  atua em 19 municípios da região leste do Estado de São Paulo e sul de Minas Gerais. Atualmente, a associação promove projetos e programas de restauração ecológica; produção de mudas nativas; iniciativas de educação ambiental e participação em políticas públicas. Ao todo, são mais de 4 milhões de mudas produzidas, 300 proprietários parceiros, 713 hectares restaurados e 40 mil participantes das vivências de Educação Ambiental. Saiba mais em: https://copaiba.org.br/.

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