Olhar técnico: Enxurrada barrenta, vinda das montanhas encontrou córregos canalizados, casas no local de matas ciliares e solos impermeáveis

Olhar técnico: Enxurrada barrenta, vinda das montanhas encontrou córregos canalizados, casas no local de matas ciliares e solos impermeáveis

Publicado em: 10 de janeiro de 2023

Socorro e os socorrenses sofreram fortes e tristes consequências da chuva intensa ocorrida no dia 2 de janeiro de 2023.

A população está mobilizada para ajudar as famílias atingidas pelo alagamento, a limparem suas casas e locais de trabalho e recuperarem o básico para viver. Contudo, juntamente a este ato solidário e inspirador da população socorrense, deve existir um olhar técnico para avaliar o ocorrido a fim de prevenir que outros desastres ocorram e causem mais prejuízos, para a população e para a economia do nosso município. 

O rio do Peixe não foi o causador do alagamento, como ocorreu na enchente há 40 anos atrás.

Em 2023 o que vimos foi muita água e muito barro descendo pelos morros do entorno da zona urbana de Socorro, local mais afetado. Esta enxurrada de água barrenta vinda das montanhas em direção ao vale, encontrou córregos canalizados, casas no local de matas ciliares e solos impermeáveis e, impedida de ser absorvida pelo solo, tomou o espaço dos córregos, das ruas, das casas e das pessoas. 

Este resultado se deve principalmente por dois fatores: ocupação histórica de casas nas margens de rios e córregos, somada a atual falta de cobertura de vegetação nos morros do entorno, seja para pastagens ou ocupação urbana; e eventos extremos, como é o caso das alterações nos níveis de chuva por todo o globo terrestre, causada pelo aquecimento global.

Os pequenos cursos d’água são capazes de escoar a água de chuvas pequenas, mas com grande volume de chuva, eles tendem a extravasar. Com ocupações, loteamentos regulares ou irregulares, o solo fica impermeabilizado e aumenta muito o volume de água nesses pequenos córregos, gerando grandes e desastrosos impactos. Tudo isso precisa ser levado em consideração, para evitar esses tipos de eventos cada vez mais comuns nas cidades, como, infelizmente, vivemos esta semana em Socorro.

Tecnicamente sabemos que a água da chuva ‘lava’ o solo de morros descobertos de vegetação e, que ocupações urbanas nas áreas de encosta e em margens de cursos d’água, deixam o solo impermeável, ou seja, impede a absorção da água da chuva no solo, causando a enxurrada que leva consigo toda a terra que está exposta, causa deslizamentos de terras e, como vimos, transbordamento de córregos e alagamento, bem como grandes prejuízos para pessoas e municípios.

Com este triste acontecimento, se faz urgente acendermos os holofotes e dar a devida prioridade para iniciativas individuais, coletivas e públicas para prevenção e redução de riscos por eventos climáticos. É possível tornar Socorro mais consciente e menos vulnerável.


Tivemos uma comprovação severa de locais mais sensíveis, com riscos de deslizamento de terra e alagamento, claramente com a necessidade de conservação do solo e restauração das matas nativas.

O que vamos construir hoje vai impactar o futuro da nossa cidade. Que legado deixaremos?

Precisamos com urgência de estudos e mapeamento dessas áreas, planejamento urbano, políticas públicas favoráveis, e planos mais efetivos que sejam guia para organizar o crescimento da cidade, considerando sempre as necessidades locais e a melhora da qualidade de vida dos habitantes.

A Copaíba está à disposição para apoiar na elaboração do Plano Municipal da Mata Atlântica, que deve auxiliar a gestão pública a tomar as decisões acertadas para garantir o melhor planejamento possível para a cidade.
Destacamos, a importância da população conhecer e considerar documentos públicos, como o Plano de Macrodrenagem, disponível no site da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do município de Socorro, que é mais um instrumento para se somar com as soluções baseadas na natureza, com a recuperação dos pequenos cursos d’água, cuidados com a ocupação dos morros do entorno da cidade e do município, principais cursos d’água com riscos, estratégias de obras a serem feitas, parques lineares etc; ações que demandam investimentos mas que precisam ser realizadas para tornar Socorro uma cidade resiliente, “onde ainda se vive” bem.

Por fim, a importância de um Plano Diretor com elaboração participativa, com olhar para eventos climáticos e que revele quais são os projetos mais adequados e que atendam as necessidades dos cidadãos e proporcione melhorias na qualidade de vida da população, considerando o desenvolvimento sustentável e o crescimento populacional.

 

Texto publicada em 06 de janeiro de 2023 no Jornal O Município – Socorro/SP

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